quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A menina e o gigante .


Era uma vez aqueles longos cabelos que embaraçados de vergonha, tentavam esconder um rosto triste, cansado, vazio de sorrisos e brilho nos olhos ... era um caso perdido, numa rua que dava em lugar algum . Era ré e por isso desculpava-se com o vento e com o mundo pois pra ela, insignificante era aquele corpo, pequeno... lutando a cada manhã contra sua sina e a cada noite contra os maiores medos que chegavam ao escurecer .
Que destino que nada: Lá no fundo ela guardava um pote de sonhos, esperanças, desejos e alguns recortes de si mesma feliz... tão secretos que não
sabia nem como pronunciá-los ... na verdade nunca os tinha visto com os olhos abertos, então supunha sempre que estava enlouquecendo .
E nessa inércia ela via passar a vida, deitada num canto procurando saída ou transparente no meio de tantas pessoas, de tanta mentira, no meio do furacão ... confiando em palavras e ilusão .
Vez ou outra, uma mão aparecia e essa mania de acreditar lhe dava a falsa sensação de estar se libertando, crescendo ... mas logo vinha o tombo, e mais pedras, e mais vidro... os cortes por dentro, já profundos, sangravam no canto dos olhos .
Quando a dor apertava, ela juntava letras num papel, ou juntava passos em qualquer música ... tentava por pra fora algo que fizesse sentido ...
ela queria achar pelo menos um pra que nesse mundo estivesse ... ela queria sentir que estava pelo menos uma vez no lugar certo, na hora certa. Já tinha esquecido como era sentir algo bom ... não sabia mais ver as horas no relógio .
A cabeça cada vez mais baixa, reparava nos pedaços que iam caindo dia-a-dia no chão. E ela imaginava as nuvens sem coragem de olhar pra cima .
Foi então que um dia, enxergou algo que pensou não ser real, e desviou, como havia de ser .
No dia seguinte, lá estavam, aqueles mesmos pés e pernas, e ela continuou em frente, ignorou .
Dias depois, lá estavam eles de novo, e de novo e de novo ... pareciam segui-la de forma assustadora e ela fugiu ... correu muito até que lhe faltou o ar .
Escutou uma voz que lhe chamava pra brinca
r . Era uma voz forte, alta, precisa .
Encolhida ela rezava pra estar a salvo, sem saber quem lhe seguia, sem saber o que fora deste buraco lhe esperava .
Foram mais de meses correndo por todas as partes ... procurando abrigo, tentando se esconder.
E aquela voz, aqueles pés, sempre a encontravam...
Seria um monstro? Seria alguém que lhe queria mal? Seria alguém que iria lhe machucar?
As opções acabando, mesmo com teorias absurdas passando pela cabeça, ela resolveu o encarar .
Destrancou a porta num final de tarde, sentou-se do lado e ficou a esperar ... mas ele não apareceu. Que decepção! Agora, curiosidade e vontade tomavam seu corpo .
Ela queria descobrir o que era aquilo, e o pq ele a seguia ...
Sombra na porta, ela viu os pés entrarem e com pouca coragem mas decidida, olhou pra cima:
Era a criatura mais maravilhosa que ela já tinha v
isto ... e quando os olhos se encontraram, surgiu do céu um clarão . E ela, gaguejando perguntou:
'-Pq me segues? O que fazes aqui?'
Um ar quente passou pelo seu pescoço e a fez sorrir de canto ... nunca havia se sentido assim.
E ele respondeu:
'-Eu tenho te seguido, te cuidado, te protegido... mesmo você fugindo de mim.'
E ela disse assustada:
'Pq perdes seu tempo? Como me enxergas daí de cima? Logo eu, tão pequena ... sem cor, sem graça, tão chata ...'
Ele abriu um sorriso grande, largo e respondeu:
'Você que se acostumou a olhar pra baixo só enxergas o que é menor que ti . Deles sim você deve temer, fugir, correr ... Veja bem, menina... Estou aqui e agora nada mais de ruim vai te acontecer.'
Segura, ela manteve a cabeça pro alto, olhando aquela figura tão intensa, tão incrível ...
'- Brincas comigo, pequena?' ele perguntou .
E como se tivesse asas, ela abriu os braços e o amarrou num abraço, espremendo-o entre os dedos. Nesse momento, cores, cheiros, sabores, sons ... tudo ela redescobriu.

Depois de brincar uma vida inteira, satisfeita dos doces, das sensações que ela nunca imaginou existir... ela o perguntou baixinho... '- Como é seu nom
e? Não sei o nome daquele que me importo tanto! '

-

Aquele gigante era o amor.
E ela, era eu .